segunda-feira, 21 de abril de 2014

Adversidades de Projetos no Ensino Fundamental


Pesquisas e elaboração de conteúdos específicos para o
 Tópico "Entrevistas".

Roger Chartier fala sobre analfabetismo digital

Conhecer as inovações tecnológicas ligadas à leitura e refletir sobre elas é essencial para se manter em sintonia com os estudantes

Elisângela Fernandes (novaescola@fvc.org.br)

Roger Chartier. Foto: Marina Piedade

Roger Chartier: historiador francês, é professor do Collège de France e pesquisador da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS, sigla em francês), ambos na França

No decorrer da história, a sociedade viu o universo da escrita e dos livros mudar ao sopro da evolução e de muitos percalços. Mas com certeza a mudança pela qual a área vem passando atualmente é uma das mais marcantes, senão a mais. Que o diga Roger Chartier, que se dedica ao estudo da história do livro e das práticas de leitura e investiga as consequências da revolução virtual - dentre elas, o analfabetismo digital - e como a forma do texto (em papel ou na tela do computador) afeta o sentido dele. 


Ele reforça a importância da leitura dos clássicos e recomenda cautela em relação aos benefícios que as novidades digitais possibilitam: a facilidade de publicar mais obras no mundo virtual, de acordo com ele, não fará necessariamente com que mais pessoas se tornem leitoras. 



A tecnologia pode ajudar a democratizar o acesso à cultura escrita?

ROGER CHARTIER Sim. Mas ela não é um instrumento por si só. A tecnologia na escola, por exemplo, favorece uma intervenção do poder público na vida de quem não tem condições para comprar um computador ou conhecimentos para utilizá-lo. A democratização da escrita não pode ser só um desejo. Deve ser uma obrigação. Nossa sociedade está vendo nascer um novo modelo de analfabetismo: o digital. Ele é marcado pela impossibilidade de usar um computador para ler, escrever ou realizar tarefas simples. 


A sociedade tem se preocupado mais em formar leitores do que escritores?

CHARTIER Ela se preocupa mais com a leitura, sim. Apesar disso, há uma especificidade do mundo digital que incita todos a escrever bastante e cada vez mais. Ao acessar uma rede social como o Facebook, estamos fazendo isso. No dia a dia, mesmo sem querer, somos obrigados a preencher formulários diversos. Muitas vezes, os jovens escrevem sem se dar conta, inclusive quando acessam alguns jogos eletrônicos. Porém escrever muito não necessariamente transforma alguém em escritor. Estabelecer uma ponte entre a escrita do universo tecnológico, mais espontânea - mas que tem regras -, e a tradicional, relacionada às produções que se localizam em gêneros estabelecidos, é um grande desafio atual. 


Os brasileiros leem pouco, em média quatro livros por pessoa em um ano. A tecnologia pode ajudar a aumentar esse número?

CHARTIER É fato que a modernidade permite o aumento da oferta de obras no mundo. Mas não podemos estabelecer uma equivalência direta entre o avanço da tecnologia digital e o crescimento de leitores. Sou pessimista: acredito que as pessoas que lerão os títulos eletrônicos serão as que já têm o hábito de ler os impressos. Tal como aconteceu com as edições de bolso: apesar do preço baixo, esses títulos não conquistaram novos leitores. O público era formado por gente que já lia e, dali em diante, poderia ler enquanto se deslocava. Também não vejo como o advento da tecnologia, que impulsiona o uso do e-mail, das redes sociais e dos sites de busca, pode conduzir alguém a ler mais livros. Por outro lado, temos de considerar que nunca se leu tanto como agora: a sociedade contemporânea lê muito mais que a mesopotâmica, por exemplo. Lemos diferentes tipos de textos a todo momento. Ainda assim, é preciso ter em mente que nem tudo, tal como as bulas de remédio, pode ser classificado como leitura legítima.

Fonte:http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/roger-chartier-fala-analfabetismo-digital-leitura-livros-747601.shtml

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